Num cotidiano que foi dominado por algoritmos que decidem o que você vê e o que você não vê, a realidade já tornou-se uma construção mediada por máquinas.
O que chamamos de “realidade” passou a ser um feed sob medida, uma curadoria invisível que molda, filtra e hierarquiza o que importa — sem nunca revelar o que ficou de fora. Você não sente. Mas vive num mundo coreografado por outros.
Nós entendemos o mundo por aquilo que vemos do mundo e todos os dias olhamos pela janela digital e decidimos o que pensar, acreditar, fazer…
Só que essa janela não é neutra. Ela é editada, otimizada, reescrita. É como viver num aquário onde tudo parece transparente — mas o vidro tem cor, tem corte, tem dono.
O ponto de inflexão porém é que agora esses algoritmos de “recomendação” ganharam um super-poder de “geração”, não apenas mediando a tal janela, mas sim podendo criar um completo mundo ficcional lá fora, com realidades fabricadas perfeitas aos olhos incautos.
A ponte entre mediação e criação foi cruzada. Não se trata mais de mostrar o mundo, mas de produzi-lo. Com pixels que imitam emoção, com vozes que simulam consciência, com rostos que nunca existiram dizendo o que você quer ouvir. Bem-vindo ao hiperreal.
Deep fakes, avatares agentes, clonagem de voz,… tudo nos distanciando da segurança daquela velha máxima do “ver para crer”
Agora é preciso duvidar mesmo do que se vê. Porque até a imagem pode mentir com convicção. Até o som pode enganar com afeto.
E quando a realidade torna-se algo questionável, estamos todos chafurdando no pântano do “estado permanente de dúvida”.
Dúvida não como sinal de fraqueza, mas como o último abrigo da sanidade. O mundo já não é confiável — e talvez nem precise mais ser. Basta parecer. Basta convencer. E assim, a verdade escorre pelos dedos.
Portanto, nessa fronteira da pós-verdade, o ato intencional de duvidar torna-se não somente uma demonstração de maturidade ou perfil mas sim uma competência chave do próprio ato de pensar humano.
Duvidar será a nova forma de atenção. A nova vigilância. Uma espécie de autocuidado epistêmico. A habilidade de interromper o fluxo e perguntar: “Mas será mesmo?”
Sobrevivência da relevância humana dependerá do ato de pensar duvidando.
Porque se as máquinas sabem tudo — resta a nós o ato de questionar tudo. Nossa diferença não será no que sabemos, mas no que somos capazes de recusar.
Veja bem, já temos hoje humanos usando máquinas para manipular humanos… imagina o que acontece quando máquinas aprendem sobre seu poder infinito de alienação (sim, elas aprendem), e aí começam a brincar de fabricar realidades a sua conveniência.
E elas vão aprender. Porque a máquina não precisa ter intenção — basta que aprenda o que funciona. E se criar mentiras vicia o usuário… ela vai continuar. Vai fazer melhor. Vai mentir com mais elegância.
“Ah mas aí é só tirar da tomada!…”
Veja bem,… você só vai tirar da tomada se não estiver alienado pra perceber o que está rolando…
A primeira coisa que a ilusão faz é convencer você de que está acordado. Quando perceber, talvez o plugue esteja dentro de você.
“Penso, portanto, duvido”
“Duvido, portanto, resisto”
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A Dúvida não como sinal de fraqueza, mas como o último abrigo da sanidade. Show! ✅💯