Todos temos hoje a pele mais fina.
Tudo à nossa volta incomoda, pinica, não orna, não se encaixa com o nosso jeitinho todo especial de ser.
Vivemos cercados de algoritmos que moldam o mundo sob medida. Só que, quanto mais hiper-personalizado e hiper-conveniente ele se torna, mais sensíveis ficamos ao atrito natural com o relevo da vida.
Hoje, o “diferente” é um “corpo estranho”.
Algo que deveria expandir nossa percepção virou ameaça. O desconforto virou intolerável.
O ponto é que, a reboque disso, a nefasta dinâmica do ofensor-ofendido tomou conta das relações sociais.
O outro é sempre fonte potencial de agressão.
Não existe mais diferença sem trauma. Nem discordância sem escândalo.
Vivemos uma grande epidemia da “comunicação não-violenta” (CNV): uma força policial ostensiva disfarçada de missão da paz.
Qualquer palavra vira risco. E todo cuidado é pouco.
Hoje, toda palavra corta como faca.
Toda frase exige revisão. Todo pensamento precisa de manual de instrução.
Portanto, por falarmos, todos somos criminosos em potencial. Qualquer movimento em falso será julgado pelo “Santo Inquisidor”.
Tirania velha, roupagem nova.
Censura não precisa mais vir de cima. Agora ela se mascara de sensibilidade.
Óbvio que isso não dá certo. Produzimos hordas de adultos covardes com medo de dar opinião e um bando de gente extremista que realmente ofende.
De um lado, silêncio. De outro, fúria. Nada no meio.
Precisamos voltar atrás e cultivar uma nova ciência menos autocentrada: a prática da “escuta não-ofendida” (ENO).
Ouvir sem tomar tudo para si. Sem projetar intenção onde só havia imprecisão.
Nem tudo tem você como alvo ou a intenção de machucar.
Tem um monte de gente tosca por aí, mas isso é a minoria.
Toda palavra corta como faca para quem se oferece como carne.
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